Grupos de Whatsapp, um campo minado

Sou, assim como todos vocês devem ser,  usuários do Whatsapp, Telegram  ou ainda de outros  aplicativos ou apps que desconheço, cuja proposta é parecida, ou seja,  a hiper conectividade entre as pessoas.

Essa ferramenta se tornou rapidamente muito importante na vida pessoal e profissional das pessoas, alguns dirão  até essencial na vida dos terráqueos. Só o Whatsapp, o aplicativo mais popular no Brasil,  tem 1 bilhão de assinantes em todo planeta !

O email, coitado, em pouco tempo, ficou démodé, quase obsoleto. Lembro quando comecei a trabalhar como engenheiro em 1988 na CBA, as mensagens  internas eram manuscritas em  papel timbrado ( os famosos MI ou memorandos internos ), que circulavam na bolsa do estafeta , office boy ou só boy,  como queiram chamar o coitado do menino que andava de seção em seção da usina deixando e levando correspondências. Lembro que a gente aguardava ansioso a sua chegada para conferir por exemplo se o diretor havia autorizado o nosso pedido ou não, ele aproveitava então a parada na nossa seção, para tomar uma água ou um café e descansar um pouco. Entre o diretor  receber o MI, despachá-lo e finalmente recebermos, eram muitos dias de angústia.

O telefone, daqueles antigos, onde o indicador da mão vai e vem para discar o número, era ainda a  nossa comunicação mais imediata na usina e fora dela, neste último caso, uma telefonista nada simpática, anotava o número do telefone desejado e depois mandava um plim plim sinalizando que a ligação havia sido completada . 

Tinha também o telefone de baiano, que era um tubo de ferro  que ligava o piso ao topo dos tanques de 1000 m3 e em outras áreas que tinham plataformas com altura. Se alguém queria chamar o colega no baiano, pegava um pedaço de ferro que ficava soldado no tubo e batia muitas vezes até alguém que não aguentasse mais a insistência do camarada,  atendê-lo . 

Queiram me perdoar os baianos da adorável  Bahia de Caymmi e João Gilberto, mas esse era o nome deste telefone primitivo muito eficiente .  Se fosse hoje, um baiano Nutella  já teria entrado com uma ação contra a empresa e alterado o nome preconceituoso deste telefone !

Nesta época, em 1989,  comecei a namorar a Virgínia que morava a 800 km de Alumínio – SP . Além do telefonema diário às 6 hs da manhã invariavelmente, via telefonista da usina, tinham as cartas que trocávamos semanalmente. Ela, muito bem intencionada, passava perfume nelas para que eu quando as abrisse,  ficasse igual a um bobo romântico sentindo o perfume dela e sonhando ….

Vejo  a grande  diferença do namoro à distância da minha filha hoje em dia ,  cujo namorado mora a 400 km de BH. A coisa acontece em  tempo real  via Whatsapp, Facetime  e outros apps, é como se os dois  estivessem na mesma cidade ou até mesmo na mesma casa. Muito funcional, mas ainda eu prefiro ter as dificuldades que a gente tinha no passado …

Tenho notado que o telefone do  meu celular tem tocado pouco. Primeiro, o protocolo pede que se mande uma mensagem escrita, depois um áudio ou  um vídeo,  este último apenas  quando se tem boa proximidade com o interlocutor  e na rabeira, chega a vez do  bom e velho telefone. Como eu sou do tempo do telefone baiano,  não sigo esta hierarquia e vou direto telefonar, com certeza é bronca na certa dos meus meninos . 

Quando ouvi pela primeira vez o nome deste aplicativo, o  Whatsapp, eu achava que não ia pegar por aqui não, sinceramente. A começar porque o nome é muito difícil para nós que falamos o português. Para eles, os anglofônicos, ” what’s up ? ” quer dizer  mais ou menos ” o que tá pegando ? ” , fazendo todo sentido para eles com a função do app. Mas pra gente,  não significa nada  e para piorar,  tem muitas consoantes que dificultam a escrita e a pronúncia .

Então um tipo muito inteligente e espirituoso, que deve ser um nordestino inspirado,  rebatizou o danado do Whatsapp por Zap e resolveu a questão! Mesmo continuando a não fazer sentido na semântica, a fonética ficou parecida . O termo Zap ficou tão popular que  é utilizado hoje sem cerimônia até nos telejornais. 

Gostaria de saber o que o mestre Ariano Suassuna, aquele  amava a língua portuguesa castiça  e que também  orgulhava – se de nunca ter saído do Brasil e para terminar que  odiava a Disneylândia ou Disney como ele falava, diria dessa questão ! Eu pagaria 1000 reais para vê-lo atuar numa aula espetáculo versando sobre este tema !  

Diferente de mim , Seu Ariano era xenofóbico , show para ele era uma interjeição popular para tocar galinhas  ou cachorros no quintal, então aula show para ele se transformava em aula espetáculo!

Acredito que a maioria de vocês devem ter grupos no Zap, assim como eu tenho:  grupos da família, dos amigos de infância, dos amigos pescadores , dos amigos do clube etc, . Há uma grande sacada por parte dos idealizadores do Whatsapp que talvez vocês não tenham notado, você é convidado para entrar no grupo à sua revelia e uma vez lá dentro, para sair,  embora tenha essa liberdade,  tende a não fazê-lo  porque isso vai pegar mal  no grupo …. todos vão saber que você saiu ! Com isso os grupos só crescem .

Mas contrariando essa quase regra,  recentemente fui adicionado a um grupo de amigos de infância da natação e assim que eu entrei, fui saudado por alguns e ignorado por outros, como é de praxe. Um deles, para a minha surpresa,  saiu do grupo imediatamente à minha entrada. Uma vez identificado o amigo ou agora apenas um colega, confesso que  fiquei incomodado,  mas não a ponto de perder o sono por ele. 

No início,  pensei se tratar de uma coincidência, mas depois, revendo o meu histórico com ele,  devo tê-lo desapontado de alguma maneira.  Amigos de infância , caso não tenha havido um contato frequente ao longo do tempo, quando reconectados na idade adulta,  é necessário um redescobrimento mútuo a ser realizado e muitas vezes, o encanto que era frágil  se desfaz como açúcar na água . Mas por outro lado, admiro a coragem deste  agora colega . 

E os embates sobre política nos grupos de Zap ? Aí a coisa pega mesmo ! Com o país dividido entre Lulistas e Bolsonaristas, esquerda e direita,  esses grupos se tornaram um campo minado. 

Para piorar, mesmo neste caso sendo um grupo de não anônimos, a tela estimula a exposição além da conta e a defender suas posições em excesso.  As figurinhas provocativas e as fake news completam o enredo para uma rota de colisão iminente entre os ainda amigos. Os até então amigos de longa data podem virar inimigos recentes e parentes, inclusive pais e filhos,  podem ficar  um tempo de cara amarrada, acredito eu . 

O mundo virtual propicia essa aparente terra de ninguém,  em contra posição ao mundo real, olho no olho , onde os filtros naturalmente existem e como o corpo também fala no contato presencial, há uma maior sensibilidade para evitar conflitos. 

Nesta semana,  no grupo sem pornô de amigos ex funcionários da XXXX , empresa  que trabalhei  nos anos 90, cujo mascote é um dino, o bicho pegou de vez ! . Antes é mister explicar lhes o porquê do termo ” Sem pornô “.  Como eu era o administrador do grupo na época, rebatizei o grupo incluindo o adendo ” Sem pornô ” em destaque, porque eu já não  aguentava mais ficar encabulado toda vez que abria um vídeo aparentemente inocente, aparecer do nada um camarada tripé nú ou  uma moça a gemer igual a Meg Ryan  no filme When Harry met Sally !

Mas continuando o causo, o imbróglio no grupo ” Sem pornô ” foi  por ataques que fiz aos Bolsonaristas pelo colapso  recente da saúde em Manaus (  Eu também votei no capitão,  mas ele me decepcionou tanto na condução da pandemia do covid 19 que agora sou oposição. Não tenho fidelidade a nenhum político ou partido, se tem proposta boa , voto nele , mas se pisar na bola FORA  !)  

Em troca recebi deles figurinhas bélicas  e vídeos em defesa do presidente. Que devolvi com mais figurinhas Exocet. Até que chegou a um ponto de um amigo nosso,  que tem boa inteligência emocional nos lembrar que o ambiente do grupo estava  ficando tóxico e que cultivar a nossa amizade ainda era o objetivo daquele grupo. 

Então eu cedi e acenei humildemente a bandeira da paz, mas um amigo Bolsonarista clamou pela liberdade de expressão  e saiu do grupo, assim sem avisar !  Fato que impactou a todos, mas usando da sua prerrogativa, um dos administradores do grupo, o resgatou  a contragosto logicamente ! ( então a ideia de ser convidado à revelia tem o seu lado positivo também ! ) . Claro que  ele poderia sair novamente  do grupo, mas acho que  o sangue  dele com o tempo já havia esfriado até os 36 graus e ele ficou . 

Moral da história :  Por experiência própria,  não vale a pena discutir política nos grupos de Zap a ponto de brigar, já chega de tanta intolerância e tantos haters no mundo, bora cultivar a amizade e o respeito  !    

Para terminar vocês devem estar curiosos para saber o day after do nosso grupo de dinos…. 

Como toda pós briga de casal,  aos poucos a gente vai voltando ao normal.  Estamos aos poucos recomeçando a pegar no pé dos são paulinos, eles por sua vez atacam os corintianos  ou os palmeirenses e santistas e voltamos a postar também  os falecimentos de amigos e conhecidos, típico de grupos de dinos. Mas de vez em quando, tem rolado ainda vídeos ou figurinhas do capitão com  uma arminha na mão !  Mas faz parte , talkei ? hehehehe

Rui Sergio Tsukuda – fevereiro/21

https://aposenteidessavida.com/

2 comentários em “Grupos de Whatsapp, um campo minado

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